A história se passa em meados do século
XIX na pacata – e um tanto assombrada – Down House, a casa de campo em que a
família vivia na Inglaterra. Ali o cientista instalou seus laboratórios e criou
dez filhos, entre eles a precoce Anne Darwin, que ainda pequena encantava o pai
com seu interesse pelas plantas e animais.
Darwin já havia rodado o
mundo a bordo do navio H.M.S. Beagle e se debruçava sobre a escrivaninha para
escrever sua obra quando Anne, aos dez anos, ficou doente e morreu.
O episódio
deprime o cientista e abre uma crise entre ele e sua esposa, Emma Darwin . A
morte da filha também abala a fé do naturalista, que se sente mais encorajado a
publicar suas teorias sobre a evolução. Ao mesmo tempo, o afastamento da igreja
aumenta os problemas entre Darwin e Emma, profundamente religiosa.
O filme não é um arauto da razão contra a fé, mas deixa
claro que a obra de Darwin abalaria para sempre algumas teorias da igreja, como
a tese do Criacionismo, segundo a qual o homem e os animais teriam sido criados
por Deus com sua anatomia atual, e não evoluído de formas primitivas e comuns a
todos os seres vivos, como sugeriu o cientista.
O nome “Criação”,
além de evocar o Criacionismo, lembra o processo de geração de “A Origem das
Espécies”, e a até mesmo a criação da pequena Annie.
O contato com a obra de Darwin irá nos
oferecer sempre razões para o encantamento. Não apenas pelo que há de
meticuloso no esforço do cientista, pela extensa coleta de informações, pelas
observações acuradas e sistemáticas e pela disposição de oferecer, a cada
passo, evidências insofismáveis; mas, sobretudo, por sua coragem de pensar fora
de um paradigma que, a sua época, era inquestionável. Também por isso, o filme
“Criação” é um acontecimento.